segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Design no interior do carro

Design no interior do carro

18/09/2008 - Mario Valiati
Fonte: iCarros

Acompanho algumas listas de discussão de automóveis na internet e sempre observo que a grande preocupação do consumidor comum quando entra em um carro recém lançado é a de detectar as famosas 'rebarbas' no painel, portas e em tudo que as mãos puderem alcançar, estabelecendo este requisito como essencial para julgar se um carro é bem feito ou não.

Embora acabamento seja uma preocupação justa de quem vai desembolsar um valor alto por um automóvel, por mais barato que este seja, muitas vezes o comprador deixa de notar detalhes importantes que demonstram um projeto bem executado ou economia sovina de alguma montadora.

O habitáculo interior nasce, primeiramente, de um projeto ergonômico. Ou seja, um especialista em ergonomia ou um designer com habilitação para tal, estuda todas as posturas possíveis dos indivíduos – já vimos um pouco sobre ergonomia na coluna anterior – e parte, então, para recomendar as dimensões e posições dos diversos elementos que interagem com o condutor, tais como bancos, pedais, alavanca de câmbio, freio de mão, volante, painel de mostradores e botões de acionamento. O correto estudo destes elementos determina - além das características mecânicas, obviamente – uma condução confortável e segura ou desconfortável e insegura.

Nesta coluna, vou comentar sobre o painel. Ele é o elemento mais atrativo no interior, mas possui uma série de detalhes que podem ajudar ou complicar a vida do condutor.

Para criar um bom painel é preciso seguir uma série de etapas projetuais, a começar pelo projeto ergonômico. A zona instrumental é composta de vários itens, alguns com mais prioridade que os outros. Para determinar quais são os mais importantes, é preciso saber quantas vezes eles deverão ser acionados ou vistos em um determinado espaço de tempo.

Os que tiverem esta característica provavelmente ganharão o privilégio de ficar em um local de acesso imediato e visibilidade privilegiada. Isto vale tanto para automóveis como para outros projetos que possuam monitoração de comandos.

Depois que um projeto inicial for feito deve-se testá-lo com usuários de verdade. Os exames devem ser efetuados em usuários sem conhecimento da tarefa. Seria como entrar num carro que nunca vimos pela primeira vez. Para avaliar se os comandos ou visores estão no local certo, simula-se a utilização do instrumento (neste caso, painel do carro) com um modelo em escala real e cronometra-se o tempo que o usuário levou até localizar e acionar/visualizar o instrumento.

Dependendo do tempo que ele levar e a quantidade de acertos/erros no comando solicitado para ser acionado ou lido, a posição ou formato escolhidos para determinado instrumento poderá ou não ser aprovada.

Então, num carro comum podemos dizer que os mostradores de velocidade, giros, combustível, piscas e outros instrumentos essenciais ao monitoramento do veículo, ficam sempre mais próximos aos do campo de visualização da estrada para que o motorista desvie o olhar o menos possível do trânsito e os observe com facilidade.

Quanto aos mostradores, existem em vários formatos e tipos de alerta. Mostradores quantitativos (velocidade, giros do motor, quantidade de combustível, temperatura) podem ser analógicos (por ponteiros ou barras progressivas) ou digitais (por meio de números).

Dependendo da necessidade, um ou outro é melhor. Quando se deseja exatidão, não há o que discutir, números são a única escolha. Porém, números requerem um certo tempo para podermos ler. Precisamos olhar diretamente para eles para só então processarmos a informação no cérebro e olhar a estrada novamente.

Para o condutor, uma fração de segundo pode ser essencial ao desviar de um buraco ou situação perigosa.
Já os mostradores analógicos (de analogia = comparação), apesar de imprecisos quantitativamente, ganham no tempo de leitura porque nosso cérebro memoriza a posição dos ponteiros em experiências anteriores.

Não precisamos parar para pensar e calcular o número, simplesmente damos uma olhada rápida e, pela posição do ponteiro, já sabemos mais ou menos o que o mostrador está marcando.
E uma outra particularidade dos instrumentos analógicos: não precisamos olhar diretamente para os mostradores, nossa visão periférica pode 'perceber' a posição que o ponteiro marca, desde que este, evidentemente, esteja em nosso campo visual de atenção.

Só é preciso deixar claro que instrumentos analógicos não precisam ser necessariamente mecânicos; há uma boa variedade de carros que possuem displays eletrônicos, mas que exibem mostradores sob forma analógica, com ponteiros eletrônicos ou barras gráficas.

Convencionalmente os instrumentos de maior prioridade são colocados bem à frente do motorista, na frente do volante. Porém, há algum tempo, algumas fábricas estão postando estes mesmo mostradores na região central do painel, na mesma direção do console central, deixando o espaço à frente do motorista vazio. É preciso deixar claro que me refiro a instrumentos de visualização prioritária. Há comandos secundários que não necessitam de observação contínua.

Bem, ergonomicamente não é a melhor posição, assim como a que equipa os carros com mostradores convencionais, à frente do volante. Nenhuma das duas posições escolhidas ficam realmente na direção da visão de atenção do motorista enquanto ele dirige. Mas o ato de ter de girar o pescoço para o lado, assim como fazemos ao olhar o retrovisor lateral, nos faz desviar a atenção da pista momentaneamente. Quem nunca se assustou ao olhar de relance para o retrovisor e quando volta o olhar para frente se depara com carro adiante parado?

Aparentemente, a razão técnica para a disposição central dos mostradores é economia. Projetado desta forma um automóvel pode facilmente ser convertido para rodar em países com volante no lado direito ou esquerdo sem grandes modificações técnicas e complicadas. Mantém-se a parte central quase intacta e muda-se apenas o volante de lugar.

A melhor solução até o momento é a herdada dos aviões de caça: projeção das informações essenciais no pára-brisa, como alguns poucos carros de produção já oferecem. Um emissor de feixes de luz localizado sobre o painel projeta as imagens diretamente no pára-brisa, bem no ponto em que os olhos do condutor observa a estrada. É a maneira mais eficaz de evitar que o condutor desvie a visão da estrada. Só nos resta torcer para que isto um dia se torne corriqueiro nos carros de custo acessível.

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