segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Design: O que tem a ver com carro?

Uma palavra que virou jargão nos últimos anos, design, é confundida com todo tipo de coisa, menos com seu real significado. Vamos voltar no tempo, quando tudo começou, com a famosa escola alemã Bauhaus. Em 1919, a instituição surgiu em Weimar, dirigida por Walter Gropius, um talentoso arquiteto, que tinha um lema que todos nós, designers, carregamos até hoje: ‘A forma segue a função’.

escola pioneira em design - bauhaus


A escola tinha professores famosos, como Marcel Breuer (até hoje, seus móveis e cadeiras parecem atuais e são vendidos), Mies Van Der Rohe (famoso pela expressão ‘menos é mais’) e Le Corbusier (participou de alguns projetos no Brasil com Lucio Costa e Niemeyer), e lecionava um combinado de arquitetura e artes. Ela plantou a semente do que hoje chamamos de design.

A filosofia modernista da escola eliminava todos os adornos, tudo que dificultasse o processo da produção em massa de um produto para ele pudesse ser útil à atividade humana. Desta visão da racionalidade surgiu a expressão ‘a forma segue a função’. Ou seja, o formato do objeto que se projeta é resultado de uma função atendida. Complicado?

Parece, mas esse é o fundamento da palavra DESIGN, traduzido do inglês, PROJETO. Projetar é transformar uma idéia em algo funcional. É tentador para nós, da língua portuguesa, dar uma ‘abrasileirada’ em design e chamar de desenho (em inglês, draw), mas, na prática, desenho é só uma das etapas do projeto. Design é muito mais abrangente que o simples ato de desenhar.

Ok, mas onde entra a estética nisto? Bom, a estética seria o resultado de um projeto atendido. Como funciona isto? Um exemplo muito bom, no campo automotivo, é o Fiat Mille. Sim, ele mesmo! O compacto teve um papel fundamental na indústria e revolucionou o design dos carros na época. Seu projetista, o famoso designer Giorgio Giugiaro, seguiu à risca os postulados da Bauhaus e iniciou o projeto do carro com a coisa mais importante: o ser humano.

Postou os ocupantes do carro em posições de conforto (em outras colunas falaremos mais sobre ergonomia) e em volta deles, inseriu motor, rodas, espaço para bagagem, contornou todo este ‘invólucro’ e sobrou a estética que conhecemos. Talvez o Mille seja a melhor representação do que a Bauhaus nos pregou ao unir funcionalidade com estética de maneira bem sucedida.

E, diante disso, o jovem amante de carros que gosta de desenhar pode ficar um pouco decepcionado porque geralmente todos começam a desenhar o carro da maneira errada, a partir da aparência externa. Realmente é convidativo, mas errado. Desenhando a partir da estética externa, teríamos de adaptar o ser humano e as partes mecânicas ao desenho desejado somente para agradar aos olhos.

Uma corrente aversa à filosofia da Bauhaus foi inaugurada pelo franco-americano Raymond Loewy, um designer que dava ênfase à estética (styling). Lowey era habilidoso e criou máquinas que apaixonavam, dava forma aerodinâmica a tudo que projetava, desde locomotivas até ferros de passar roupas e batedeira. Mas sua paixão pelos automóveis o fez dar forma a um dos mais belos carros já desenhados até hoje, o Studebaker Commander Starlight 1953. Um ícone da estética. Loewy foi duramente criticado pela ala da Bauhaus que defendia um design voltado para o racional, mas seu talento para a bela estética era evidente. Dentre os seus trabalhos mais famosos constam a garrafa da Coca-Cola, o símbolo da Shell, cigarros Lucky Strike e, mais recentemente, o design interior do laboratório espacial Sky Lab.

interior de veículo - funcionalidade

A maneira correta de se fazer um carro, ou seja lá qualquer outro objeto, ainda é a ditada pela Bahaus: a funcionalidade tem de vir em primeiro lugar, a estética sempre será o resultado de um projeto bem feito. O ideal é conciliar funcionalidade e estética. Afinal, se existe uma função racional para a estética esta é a de nos fazer apaixonar por um desenho!

04/09/2008 - Mario Valiati
Fonte: iCarros

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