Desde os anos 20, a        importação de automóveis era uma rotina bastante conhecida. A Ford Motors        Company tinha iniciado a montagem de seus Ford “T”, em São Paulo, em 1919.        A General Motors Company fez o mesmo a partir de 1925, com o Chevrolet        “Cabeça de Cavalo”.  Carro Nacional nessa época, nem mesmo em sonhos.
        A partir de 1946, a        montagem dos carros importados retomou sua rotina, mas alguma coisa havia        mudado. A necessidade de improvisar peças de reposição durante o período        da guerra fez com que surgisse uma incipiente indústria de autopeças, o        que encorajou aqueles que pretendiam construir o automóvel brasileiro.
Os conformistas        diziam que o Brasil jamais seria uma nação industrial porque, pela lei da        divisão internacional do trabalho e pelos tratados e acordos dela        decorrentes, os países subdesenvolvidos continuariam aprimorando sua        especialidade de fornecedores de matérias-primas e os industrializados,        desenvolvendo sua especialidade de  fornecedores de produtos        industrializados.
Com o regime de        Licença Prévia, instituído em maio de 1948 e controlado pela Comissão de        Exportação e Importação – CEXIM – a indústria teve um pequeno alento para        desenvolver-se e melhorar seu equipamento. Contudo, em abril de 1951,        devido ao temor de que o conflito na Coréia degenerasse em guerra mundial.        Foram novamente abertas as portas a importação e de modo irrestrito, para        permitir que o país fizesse estoques estratégicos.
Os empresários que        viveram essa fase afirmam que foi um período crucial, uma prova de fogo        para o setor de autopeças. As importações indiscriminadas esgotavam nossas        reservas cambiais e o balanço de pagamentos estava a ponto de estourar. Em        1952, o Brasil era um país sem estradas e sem transportes.
A 31 de março de        1952, a Comissão de Desenvolvimento Industrial – CDI – criada pelo        presidente Getúlio Vargas, instalou a Subcomissão de Jipes, Tratores,        Caminhões e Automóveis, presidida pelo subchefe da Casa Militar da        Presidência da  República, o engenheiro naval comandante Lucio Meira. Este        fato teve grande importância para os destinos da indústria automobilística        nacional.
Advieram, depois,        fatos animadores. O Aviso 288, da CEXIM, de 19/08/1952, foi o primeiro ato        governamental relativo ao setor, liberando a importação de autopeças, mas        limitando o licenciamento a artigos não fabricados no Brasil. Assim,  104        artigos produzidos pela indústria nacional continuaram com sua importação        proibida. Outro fato importante foi a aprovação, em 30/10/1952, pelo        presidente da república, das conclusões da subcomissão, relativas ao        fomento da produção nacional de autopeças e implantação gradativa da        indústria automobilística no País. Para convencer os incrédulos e        pessimistas, foram organizadas mostras e exposições da indústria de        autopeças.
A implantação da        indústria automobilística nacional voltou à tona com a posse de Juscelino        Kubitschek de Oliveira na Presidência da República. Lucio Meira, nomeado        ministro da Viação e Obras Públicas, passou a chefiar um grupo de trabalho        que deveria, no prazo de trinta dias, apresentar um plano para sua        execução. Como decorrência, foi criado o Grupo Executivo da Indústria        Automobilística – GEIA – pelo Decreto 39.412, de 16/06/1956. Esta data é        considerada quase unanimamente o 1º marco histórico da indústria        automobilística no Brasil, porque o GEIA realmente viabilizou os esforços,        os planos e as iniciativas referentes ao parque automobilístico nacional.
Embora no final de        1956 tenham sido fabricados alguns veículos, a  produção efetiva        iniciou-se em 1957. Os dados estatísticos omitem a produção de 1956,        computando-a no ano seguinte.
Na fase de        implantação da indústria automobilística nacional, o GEIA recebeu mais de        vinte projetos, dos quais apenas dezessete tiveram aprovação e somente        doze foram concretizados: Fábrica Nacional de Motores (caminhões, ônibus e        automóveis); 
Ford Motor do Brasil        S/A (caminhões, automóveis, utilitários e tratores); 
General Motors do        Brasil S/A (caminhões e automóveis); 
International        Harvester S/A (caminhões); 
Mercedes Benz do        Brasil S/A (caminhões e ônibus); 
Scania Vabis do        Brasil (caminhões e ônibus); 
Simca do Brasil        (automóveis e camionetas); 
Toyota do Brasil S/A        (utilitários); 
Vemag S/A (        automóveis, camionetas e utilitários); 
Volkswagen do Brasil        S/A (camionetas, furgões e automóveis); 
Willys Overland do        Brasil (utilitários, camionetas e automóveis) e 
Karmann Ghia do        Brasil (carrocerias de automóveis).
NASCE O CARRO BRASILEIRO
A 15 de novembro de        1957, saía às ruas o primeiro automóvel fabricado no Brasil, com um índice        de nacionalização relativamente elevado: tratava-se da perua DKW. Era um        carrinho feio, que mais parecia um carro de padeiro. As linhas traseiras        quadradas nada tinham a ver com a frente arredondada, herdada dos DKW        fabricados na Alemanha, pela Auto-Union. Não havia muitas alternativas        quanto à cor da pintura nem do estofamento. Mas a perua andava bem e        surpreendia pelo desempenho e economia.
O motor era de dois        tempos e três cilindros, com tração dianteira. Apenas 900 cm3 e 40CV. No        entanto, sua aceleração e sua velocidade máxima eram razoavelmente boas        para a época. O câmbio tinha quatro marchas para a frente e a estabilidade        era satisfatória. O consumo de gasolina – que não era levado em conta        naqueles tempos de fartura de petróleo – era surpreendentemente baixo. O        grande inconveniente era a necessidade de se misturar o óleo à gasolina,        no próprio tanque. Além disso, o cheiro exalado pela furgoneta  fosse        simplesmente horrível.
Na verdade, a perua        DKW foi o primeiro carro brasileiro com características de continuidade.        Mas, antes dela, deve-se mencionar o aparecimento da Romi-Isetta, chamado        carro-bolha, fabricado pelas Indústrias Romi de Tornos por um breve        período. Além disso, tanto a Ford como a GM haviam nacionalizado grande        parte de seus componentes da linha de montagem. A Willys, logo a seguir,        nacionalizou totalmente o seu Jeep Willys.
Em 1959, porém, o        automóvel nacional tornou-se uma realidade palpável: ele era visto nas        ruas e nas estradas, estava nos  concessionários e podia ser adquirido,        até mesmo financiado. Neste ano surgiram a perua DKW de linhas renovadas,        o sedan DKW, o primeiro Volkswagen 1200, o Simca Chambord, a VW Kombi e o       Renault Dauphine.
PRIMEIRA FASE: A simples Cópia
            Na verdade, os        primeiros anos da indústria automobilística nacional marcaram a fase da        cópia, ou seja, os “nossos” carros nada mais eram do que veículos já        existentes, fabricados nos seus países de origem, onde geralmente não        haviam obtido muito sucesso. Graças à política de incentivos de então, os        fabricantes podiam importar seu ferramental sem pagar impostos.
Os DKW eram        fabricados pela Vemag, sob licença da Auto-Union da Alemanha. Já tinham        dois anos de experiência de Brasil e uma pequena rede de revendedores.        Como todos os demais, pagavam royalties para o exterior.  A Volkswagen da        Alemanha começava a crescer nos quadros de vendas mundiais, a partir de        1948. Acreditou no Brasil e fez aqui sua primeira fábrica fora do país. O        besouro 1959 e a Kombi tinham praticamente a mesma mecânica, baseada no        pequeno motor de 1200 cm3. Foram, desde o início, um sucesso de vendas.
Os motoristas mais        velhos devem se lembrar da propaganda VW na época: apologia do motor        refrigerado a ar, das barras de torção. Vale como curiosidade: nos dias de        hoje os melhores automóveis são exatamente o oposto.
A França colaborou        com dois automóveis: o Simca Chambord e o Renault Dauphine. O primeira era        fabricado pela própria Simca, instalada num prédio que anteriormente        pertencera à Varam Motores, montadora de automóveis e caminhões Nash. O        primeiro Simca Chambord de 1959, era uma cópia do Simca Vedette, fabricado        na França desde 1957. Este carro, curiosamente, lembrava um modelo Ford,        pois seu projeto originalmente era americano.
O motor, de oito        cilindros em “V”, tinha válvulas laterais e assemelhava-se aos antigos        motores importados dos Ford 60HP.
O Simca Chambord        possuía uma carroceria das mais luxuosas, com acessórios totalmente        inúteis no Brasil. Suas linhas eram vistosas e os materiais usados no        acabamento também.  Mas o carro tinha muitos defeitos; deles, o mais        aborrecido era uma embreagem que patinava constantemente. Outros        possuidores queixavam-se também de problemas na parte elétrica e, mais        tarde, verificou-se que seus motores gastavam muito óleo.
O Renault Dauphine        havia sido lançado na Europa em 1957 com a finalidade de combater o VW,        cujo sucesso de vendas era  esmagador. Estranhamente, porém, era fabricado        no Brasil por uma firma americana, a Willys Overland, que fazia também os        Jeeps, veículos herdados da Segunda Grande Guerra, cuja sigla era uma        corruptela de GP (leia-se Jipe), iniciais de General Purpose Vehicle, ou        seja, veículo de uso geral.
Os primeiros        Dauphines fizeram sucesso inicial, mas logo começaram a surgir problemas e        defeitos, que levaram o povo brasileiro – incorrigível gozador – a        chamá-los de “Leite Glória”, porque se “desmanchavam instantaneamente”.        Esse mesmo espírito brincalhão batizou os primeiros Simcas de “Belo        Antonio”, por causa de um filme exibido na época, cujo protagonista        principal, Marcelo Mastroiani, era um homem bonito, requisitado por todas        as mulheres, mas que na hora “agá “não funcionava”.
O Dauphine possuía        motor de quatro cilindros, quatro tempos, tração traseira, câmbio de três        marchas e deslocava apenas 850 cm3.
A fábrica, de modo        meio maroto, anunciava que ele era capaz de fazer “até 16km com um litro        de gasolina”, o que era uma verdade apenas parcial, pois esse índice só        era atingido em condições especialíssimas. E isso, somado à inadequação do        projeto às nossas estradas, contribuiu para que o carrinho ficasse logo        desacreditado.
COMEÇA A REVOLUÇÃO
        Todos os fabricantes        já sabiam, há tempos, que o carro nacional era considerado bom e que os        modelos existentes eram razoáveis. Mas sabiam também que o público queria        verdadeiras novidades, ao invés de simples mudanças estilísticas. Assim,        começou uma guerra por trás dos bastidores, na qual o consumidor foi        beneficiado.
        O ano de 1973 pode        ser considerado como o ano da revolução, pois surgiram novos modelos, que        ficaram por um bom tempo. E os que não chegaram a ser lançados nesse ano e        tiveram sua apresentação nos anos seguintes, foram criados nessa época.
        O primeiro carro        importante a nascer foi o Chevette, da GM, realmente atualizado. Tanto        isso é verdade, que sua versão européia surgiu depois da brasileira. Com        um motor de 4 cilindros dianteiros, com o comando único na cabeça, ele        abriu caminho para as verdadeiras novidades tecnológicas.
       A Volkswagen acertou        em cheio, pela primeira vez, lançando a Brasília. Com os mesmos        componentes tradicionais, ela possuía uma carroceria atualizada, que fez       a fábrica retomar seu crescimento em vendas.
         De 1973 para 1974        surgiram também o Maverick, que deveria ter sido um sucesso, e o Passat,        que foi um sucesso. Além deles, uma nova edição do velho JK, chamada agora        de Alfa Romeo 2300. O Maverick teve uma história curiosa: a Ford fez uma        pesquisa de opinião pública, para saber, entre carros que ela poderia        lançar, qual deles teria a preferência do público. O resultado apontou o        Maverick, mas quando o carro foi para os revendedores o público o rejeitou        solenemente. Houve quem dissesse que a “pesquisa” havia sido encomendada        pela Ford, para lançar o Maverick, já que ele era o único carro, na época,        que poderia ser colocado no Brasil com vantagens econômicas... Havia dois        motores disponíveis para o Maverick: 6 cilindros (o antigo do Aero,        modificado) e o V-8 importado (do Mustang). Mais tarde, a Ford equipara o        Maverick com o motor de 4 cilindros, 2300 cm3, feito no Brasil para        exportação (usado pelo Ford Pinto americano).
          O Passat, realmente,        foi um carro que continuou a revolução iniciada com o Chevette: com motor        de 4 cilindros, dianteiro, tração dianteira, comando único na cabeça e        apenas 1500cm3, ele apresentava desempenho e conforto de carro muito        maior, pelos padrões brasileiros da época.
        Nessa ocasião, surgiu        o Puma Opala, que havia sido anunciado já há algum tempo, mas que somente        agora começava a ser realmente produzido. Tratava-se de um Puma, de fibra        de vidro, usando componentes mecânicos do Opala 4100.
        Dos lançamentos de        1973 vale ressaltar o Dodge 1800, como o de história mais estranha. A        Chrysler sabia que precisava entrar no mercado com um carro médio, para        aumentar suas vendas. Escolheu o Hillmann Avenger, inglês, de sua        subsidiária, e adaptou-o às nossas condições, elevando a cilindrada de        1500 para 1800cm3. Foram feitos os testes mais rigorosos nos protótipos        importados, que superaram a todos galhardamente. Quando, entretanto, o        carro nacional chegou ao público, tinha tantos defeitos, que quase levou a        fábrica à bancarrota. Com muita paciência os homens da Chrysler aceitaram        o  desafio e, aos poucos, foram acertando o carro. Em 1975 foi feito um        relançamento do veículo, agora chamado de Polara, que reconquistou o        público perdido. Renascido  das próprias cinzas, o Polara talvez seja um        dos poucos exemplos de automóvel que conseguiu se recuperar de uma quase        falência.
        A Caravan foi lançada        em 1975, com grande êxito. Faltava, realmente, uma grande perua e de luxo,        pois a Kombi – mesmo a mais sofisticada – tem características mais de        furgão que de transporte familiar. Nas peruas menores, Variant e Belina,        faltava espaço imprescindível para as famílias numerosas.
         A Veraneio é a        evolução daquela primeira perua Chevrolet, a Amazona, de 1960. De modo que        a perua derivada do Opala veio para ficar. Assim, como os Opalas, ela podia       ser equipada com o motor de 4 ou de 6 cilindros.
       CARROS NACIONAIS:
1956 - Romi-Isetta1956 - Perua DKW-Vemag1957 - Kombi - Volkswagen1957 - Ford F-100 - Ford1957 - Jeep Willys1958 - Chevrolet Brasil 3100 - Chevrolet1958 - Rural Willys1959 - Fusca - Volkswagen1959 - Simca Chambord1960 - Aero Willys1960 - FNM 2000 JK1961 - Willys Interlagos1962 - Karmann Ghia - Volkswagen1962 - Renault-Willys Gordini1964 - Chevrolet Veraneio – Chevrolet Pick Up1964 - GT Malzoni - Lumimari/Puma1965 - Brasinca GT 4200 Uirapuru1966 - Puma GT - Puma1966 - Willys Itamaraty1967 - Galaxie - Ford1968 - Corcel - Ford1968 - Opala - Chevrolet1969 - VW 1600, Variant, TL - Volkswagen1969 - Dodge Dart1969 - Puma GT4R - Puma1970 - Belina - Ford1970 - Puma GTE - Puma1971 - Puma GTS - Puma1971 - Dodge Charger1972 - SP1 - SP2 - Volkswagen1973 - Chevette - Chevrolet1973 - Maverick (automóvel) - Ford1974 - Brasília - Volkswagen1974 - Passat - Volkswagen1975 - Chevrolet Caravan - Chevrolet1976 - 147 L - Fiat1977 - 147 Pick-up - Fiat1977 - Miúra1978 - 147 Rallye - Fiat1979 - Chrysler-Dodge Magnum e Le Baron1979 - 147 Álcool - Fiat
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