sábado, 20 de novembro de 2010

sedãs de 12 cilindros

Angus MacKenzie/New York Times Syndicate//Fotos: Brian Vance
Brian Vance
O trio de sedãs de luxo corta as estradas com elegância e bastante agilidade, mas o principal destaque é o conforto a bordo
De certo modo, esse é um comparativo completamente sem sentido. Sabe, o povo com cacife para torrar US$ 308.350 (cerca de 540 mil reais) no Rolls-Royce Ghost que mostramos aqui, US$ 226,485 (cerca de 395 mil reais) no Bentley Continental Flying Spur Speed ou US$ 209,500 (cerca de 365 mil reais) no Aston Martin Rapide não deve sofrer pelos detalhes mundanos como o resto de nós quando escolhemos entre um Ford e um Chevrolet, ou um Honda e um Toyota. Coisas como consumo de combustível e valor de revenda ou se um carro é décimos mais rápido no 0 a 100 km/h do que o outro são bastante irrelevantes.
Mesmo a diferença de preço entre o Rolls e o Aston – dinheiro que dá pra comprar uma casa – tem pouca influência. As pessoas que compram essas coisas geralmente possuem seis ou sete outros carros, abrir suas garagens é como abrir um guarda-roupa: “Hmmm... o dia está ensolarado. Acho que vou pegar o Lamborghini conversível hoje.”
Brian Vance
Legítimos carros de alto luxo, os três modelos britânicos rodam pelos arredores de hotéis sofisticados e mansões cinematográficas
Ainda assim, é um comparativo intrigante. Os três carros têm luxo extremo em quatro portas e motores de 12 cilindros de cerca de 6.0 litros ou mais. Os três vestem nomes aristocráticos e cuidadosamente se valem de seus passados gloriosos para exigir preços que desafiam a lógica e o bom senso. Os três representam o supra-sumo da indústria britânica, mas foram projetados e desenvolvidos por equipes de engenharia lideradas por... alemães. Os laços que unem esses carros são mais profundos do que as diferenças que os separam.
O Ghost é o primeiro Rolls-Royce pequeno lançado desde o Silver Dawn 1949, embora “pequeno” seja um termo relativo: com 540 cm, ele consegue ser 10,9 cm mais longo do que o considerável Bentley CFS Speed e exibe um entre-eixos 22,9 cm maior. O Ghost é um carro altivamente elegante: contido e de bom gosto, mas com uma poderosa presença na estrada. O eixo dianteiro é avançado à frente e a cabine é jogada para trás, obtendo proporções perfeitas, e ele tem o nariz alto e traseira baixa característica dos carros de luxo britânicos clássicos. O Ghost contorna uma rotatória de acesso a uma mansão como uma lancha elegante cortando círculos em um lago particular.
Brian Vance
Estilo do Aston Martin é bem mais arrojado, principalmente visto de traseira na comparação com os rivais de sangue azul
Mas o Ghost faz o Aston Martin Rapide parecer um anão. Com 501,9 cm de comprimento e entre-eixos de 298,95 cm, o Aston é até maior que um Cadillac STS. O esguio, sensual e impossivelmente belo Rapide é uma réplica quase perfeita do conceito que roubou a cena no salão do automóvel de Detroit em 2006, e a forma como as curvas do cupê DB9 foram artisticamente transportadas para um entre-eixos mais longo e quatro portas é mesmo de tirar o fôlego. Em Los Angeles, os conhecedores de automóveis quase saíam da estrada enquanto competiam para uma olhada mais de perto toda vez em que pegávamos a via expressa.

Ao lado do Ghost e do Rapide, o CFS Speed parece um pouco maltrapilho. Em partes por causa da familiaridade, já que o Continental Flying Spur já está nas estradas há quase cinco anos e partes de Los Angeles são apinhadas com essas coisas. Mas, da mesma forma, não há como esconder a arquitetura do Grupo Volkswagen sobre o qual ele é construído. Se o soberbamente articulado Rolls-Royce Ghost tem o supra-sumo do vocabulário de design de carros de luxo britânicos na medida certa, o Bentley, com seu capô atarracado e para-lamas dianteiros curtos, além da cabine longa e coluna C ligeiramente bizarra, errou tudo. Em termos de proporção e postura, ele parece mais da Europa central do que decididamente britânico.
Isso não quer dizer que não gostamos dele, porém.
Angus MacKenzie/New York Times Syndicate//Fotos: Brian Vance

Brian Vance
Não é à toa que o Aston Martin Rapide está na frente nessa foto: considerado a Kate Moss sobre rodas, é o mais belo dos três
Qualquer companhia que batize seus modelos de alto desempenho de Speed (velocidade, em inglês) vai bem conosco, especialmente quando não estão apenas causando impacto no marketing. Com seu motor V12 6.0 biturbo configurado para produzir 48 cavalos e 10,2 kgmf a mais do que o Continental Flying Spur tradicional (ele também tem uma suspensão retrabalhada e pneus Pirelli PZero em rodas de 20 polegadas), o CFS Speed é um míssil balístico intercontinental revestido em couro que atingirá 320 km/h em uma autobahn sem fazer muita força. Mesmo o Aston Martin só atinge 302 km/h, enquanto o Rolls é restrito a respeitáveis 250 km/h.
Mas, enquanto a velocidade pura do Bentley de 600 cavalos é impressionante, seu trem de força hercúleo não é o melhor da turma. Essa honra vai para o V12 6.6 litros biturbo com injeção direta de 570 cv do Ghost, que impulsiona as rodas traseiras através da única transmissão automática de oito velocidades desse trio. Com 79,5 kgfm de torque já aos 1.500 rpm – 3 kgmf a mais do que o Bentley, disponíveis 200 rpm mais cedo – e melhor escalonamento das marchas, o motor desenvolvido pela BMW entrega suavemente a força de um foguete Saturn V no momento em que você acaricia o acelerador.
Brian Vance
O Bentley tem o melhor acabamento, com extremo cuidado aos mínimos detalhes. A decepção fica por conta do Rolls-Royce
Essa limusine de 2.421 kg pode acelerar de 0 a 96 km/h em 4.3 segundos, um décimo mais lento do que os 45 kg a mais do Bentley de tração integral, mas destrói essa desvantagem no quarto de milha, cruzando a linha dois décimos antes do que o CFS com 9,5 km/h a mais de velocidade. Isso significa 12,7 segundos a 181,6 km/h com pouco mais que um murmúrio educado sob o capô.
Tanto o Rolls quanto o Bentley deixam o esportivo dessa turma comendo poeira. Produzindo 476 cv em 6.000 rpm, o motor V12 5.9 naturalmente aspirado do Aston Martin Rapide não chega a ser um fracote, mas ele parece certamente subnutrido em relação a esses colegas, obtendo um tempo de 0 a 96 km/h de 4,7 segundos e 13,2 segundos no quarto de milha. O problema é a curva de torque: sem um par de turbos o alimentando, o motor do Aston tem o pico típico de um V12, com seus 61,2 kgmf de torque indisponíveis antes de estonteantes 5000 rpm.
Brian Vance
Avalanca de câmbio do Bentley Speed
Uma transmissão automática de seis velocidades que tem um irritante buraco entre as segunda e terceira marchas, e que não é tão precisamente calibrada quanto a do Bentley, não ajuda. O Rapide parece letárgico a não ser que você mantenha a transmissão em modo esportivo na cidade ou trabalhe constantemente as borboletas de trocas para manter o embalo em uma estrada sinuosa.
Exceto pelo acentuado rugido dos pneus em velocidades de estrada, a estrutura do Aston registra um inesperado equilíbrio entre carro esportivo e sedã de luxo, no entanto. Deixe os amortecedores no modo normal e o Rapide passa por vias expressas irregulares de forma surpreendentemente suave e não vai dar solavancos em ruas urbanas esburacadas.
Alterne para o modo esportivo e o Rapide amplifica o diálogo entre motorista e asfalto, embora ele nunca se torne invasivo ou desconfortável. Quando se faz curvas rápidas, o Rapide parece um DB9 anestesiado: embora a direção ainda seja sensível e linear, o entre-eixos mais longo claramente limitou seus reflexos. É melhor frear com força e eliminar velocidade antes de entrar nas curvas, e então esperar pelo ponto de tangência antes de pisar no acelerador. Apresse as coisas e a frente invariavelmente vai escapar. Faça tudo certo e o Rapide irá – se você desligou o controle de estabilidade – sair da curva com um deslizamento lateral lindamente controlado.
Brian Vance
Sistema multimídia do Ghost: mordomias a bordo
Em sua terra natal em Sussex, Inglaterra, o Ghost percorreu a estrada como uma calcinha de seda na perna de uma supermodelo. Mas nos Estados Unidos, em estradas esburacadas com ondulações laterais – junções de trechos da pista, bueiros salientes – assim como buracos e outras imperfeições, a suspensão constantemente transmite trepidações pela estrutura da carroceria que até os passageiros notam. E, enquanto o motor épico fornece uma largada rápida nos semáforos ou nas vias expressas, você pode se ver chegando às esquinas mais rápido do que esperava. Felizmente, os freios são excelentes, porque fazer o Ghost mudar de direção com pressa é um pouco como fazer um elefante sapatear. Esse pode ser um Rolls-Royce “pequeno”, mas ele parece estranhamente menos controlável do que o Phantom maior. Parte do problema, nós suspeitamos, podem ser os pneus Goodyear EMT capazes de rodar vazios, que parecem rígidos nas paredes laterais.
Como seus equivalentes da Porsche, os engenheiros de chassi da Bentley parecem determinados a construir um carro que desafia as leis da física. Selecionar os modos Conforto ou Normal da suspensão adocica os impactos da estrada vindos dos pneus esportivos sem diluir a precisão de suas respostas. O modo esportivo torna a condução perceptivelmente mas trabalhosa, e gera algum ruído através da direção em curvas fortes, mas mantém a carroceria bem firme. O Bentley é estável como um trem na rodovia, mesmo com rajadas de ventos laterais que obrigaram o motorista do Rolls a fazer correções constantes no volante. E o comportamento em uma pista sinuosa de mão dupla é quase além de explicações racionais – simplesmente não se pode acreditar que um carro tão grande, tão pesado, possa ser tão bom de dirigir.
Quanto? Digamos que você teria que arrancar as rodas do Aston Martin para acompanhar esse Bentley grandalhão. Claro, o CFS trabalha bem os pneus dianteiros, mas a tração integral tira um pouco de clareza da direção. Mas, após uma passagem arrebatadoramente rápida em uma estrada sinuosa, você desce do CFS Speed balançando a cabeça e sorrindo como um bobo pela loucura que acabou de fazer.
Brian Vance
Interior do Aston Martin é o mais versátil do trio
Todos os três carros têm interiores visualmente impressionantes. O Rolls e o Bentley são tudo o que você espera, com tanto bom gosto e detalhes quanto um terno comprado na Rodeo Drive. O Ghost tem o melhor banco traseiro (nosso carro de testes tinha o “banco divã”, opcional de seis mil dólares), mas é o Bentley que tem o melhor acabamento, com atenção extrema a todos os materiais. O Rapide fica longe da combinação tradicional britânica de madeira, couro e cromados brilhantes em troca de materiais mais modernos e atmosfera de carro-conceito.
 Porém, a ergonomia do Aston é caótica – boa sorte em encontrar o comando de abertura do tanque de combustível sem consultar o manual, por exemplo – e, apesar de toda a badalação, os assentos traseiros são praticamente inúteis para alguém com mais de 12 anos.Os amigos típicos do comprador do Rapide serão velhos e inflexíveis demais para se acomodarem confortavelmente no banco traseiro mesmo para um curto trajeto até o restaurante. Provavelmente não importa muito o que achamos sobre esses três carros.
O cara que pega seu cartão de crédito ilimitado para comprar um Aston Martin Rapide não vai se importar se os bancos traseiros realmente só servem para crianças, que a ergonomia é irregular e que não há espaço para sua bagagem Louis Vuitton. Ele não vai se importar se o Aston parece um pouco frágil, com seu interior se resmungão em pavimentos menos do que perfeitos, ou que o GPS pré-histórico parece ter sido incluído depois do projeto já pronto. Tudo com o que ele irá se importar é que ele está dirigindo o mais belo quatro portas do mundo, e que todos estão notando.
Brian Vance
Controles elétricos do banco do Aston Martin Rapide
O cara que ataca sua conta suspeita nas Ilhas Cayman para comprar um Rolls-Royce Ghost não vai se importar que esse carro seja melhor dirigido como um velho Buick Roadmaster. Ele provavelmente não vai se importar com o decepcionante desvio dos valores autênticos da Rolls-Royce – que o capô prateado opcional seja pintado em vez de em alumínio polido como nos Phantoms, que as icônicas entradas de ar agora sejam de plástico em vez de latão cromado, que a chave de ignição seja praticamente um pedaço leve de plástico (embora ele possa notar se o cromado começar a descascar como na chave do nosso carro de testes, o que, juntamente com as horrendas bolhas no vinil preto na parte inferior do painel frontal, é um lapso de qualidade preocupante em um carro com preço a partir de US$ 246,700 – 430 mil reais).
Ele não vai se importar porque ele está apenas comprando a afirmação que o Spirit of Ecstasy – ornamento clássico no capô dos Rolls-Royce – causa quanto ele adentra o Beverly Hills Hotel e os manobristas se estapeiam para ver quem vai estacioná-lo. E o cara do Bentley? O cara do Bentley não tem sequer uma preocupação no mundo. Porque, se ele quiser uma limusine belamente construída, ultra-exclusiva, de luxo supremo, ele já tem uma. E se ele quiser um carro esporte de 320 km/h, ele também já tem um.


1º lugar:
Bentley Continental Flying Spur Speed
– O realizador discreto. Rápido sem esforço, com uma estrutura que desafia as leis da física, é aquele carro da lista que faz tudo bem.
2º lugar:
Aston Martin Rapide
– Kate Moss sobre rodas. Simplesmente lindo e divertido para um passeio, embora no fundo totalmente impraticável. Mas isso o impediria?
3º lugar:
Rolls-Royce Ghost
– Um fantasma na máquina. Presença impressionante na estrada e trem de força épico assombrados por desempenho trepidante e pequenas mancadas na qualidade.


fonte: http://revistaautoesporte.globo.com

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